Escrito por: Júlio Sousa
Publicado em: 08/03/2017
“Pai e filho sofrem um acidente terrível de carro. Alguém chama a ambulância, mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar no hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico vê o menino e diz: ‘Não posso operar esse menino! Ele é […]
“Pai e filho sofrem um acidente terrível de carro. Alguém chama a ambulância, mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar no hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico vê o menino e diz: ‘Não posso operar esse menino! Ele é meu filho!’.”
Ao ler este texto, a maioria das pessoas fica com ar de questionamento. Como é que o menino pode ser filho da pessoa mais competente do centro cirúrgico se o pai morreu no acidente? Diversas teorias e hipóteses são levantadas sobre o caso: a mãe tinha um caso extraconjugal? Era um casal gay? O pai era adotivo? Ou qualquer coisa que possa dar sentido ao texto. O que muitos não pensam de imediato é que a pessoa mais competente do centro cirúrgico é a mãe do menino, pois mulheres não são usualmente associadas a essas atividades.
Explicar porque poucas mulheres desejam ser cirurgiãs é um tema complexo que não tem resposta única.Para Neumayer, a falta de cirurgiãs que sejam modelos a serem seguidos é um importante fator limitante à escolha da Cirurgia como carreira pelas estudantes de medicina.Park et al. analisando questionário respondido por “staffs” do sexo feminino que já exerciam a Cirurgia Geral e por estudantes de Medicina do último ano, concluiu que o interesse feminino pela cirurgia é igual ao masculino. O que detém as mulheres na escolha pela Cirurgia Geral é a procura de uma especialidade que lhes permita conciliar uma atividade profissional gratificante com a vida pessoal, aí incluídos casamento e maternidade.Os dados obtidos por Ferris8 et al. em estudo semelhante ao de Parker mostram que 15% das entrevistadas (413) sentiram-se discriminadas por ocasião da admissão para residência mas que quase a metade (199) afirmou que suas carreiras não foram prejudicadas por qualquer tipo de discriminação. No mesmo estudo 82% (338/413) das entrevistadas afirmou ser necessária a presença de um modelo feminino.
Diferentemente dos homens que, simplesmente, escolhem uma profissão ou especialidade que lhes agrade ou convenha, as mulheres mesmo quando mais capazes têm inúmeros obstáculos a vencer. Embora nos dias de hoje o preconceito de gênero tenha sido quase extinto, no Ocidente, a educação das mulheres, em algumas famílias, ainda favorece a baixa auto-estima, a insegurança intelectual, a dependência emocional e financeira. Na sociedade, seus atributos mais valorizados são físicos, em detrimento de destreza, habilidade manual, inteligência e todos os outros necessários para o sucesso como cirurgiã. Durante séculos, mesmo no Ocidente, as mulheres conviveram com direitos civis limitados e quase nenhuma credibilidade profissional. Chantagens, assédios, difamação e ridicularizações fizeram parte da evolução das mulheres na Medicina, particularmente na Cirurgia, de forma mais grave no início, mas ainda presentes, dissimuladas em algumas brincadeiras.
“As mulheres não podem, seriamente, seguir a carreira médica, a não ser que deixem de ser mulheres. Devido às leis fisiológicas, mulheres médicas são ambíguas, hermafroditas ou assexuadas, monstros sob todos os pontos de vista”
Idéias e sentimentos deste tipo fazem parte de um passado remoto, mas, de algum modo, ainda subexistem. Certas conquistas profissionais e culturais femininas continuam a provocar reação de surpresa. Ao contrário, a ausência de mulheres em posições de representatividade social, não causa nenhum espanto. Na UFRJ em 1998, cento e noventa anos após sua fundação, só quatro mulheres chegaram a Professoras Titulares por concurso, e apenas uma delas é cirurgiã.
Segundo Pringle, o fenótipo masculino inspira 25% a mais de confiança do que o feminino. Isto significa que, para qualquer cargo que pleiteie, uma mulher precisa mostrar ser pelo menos, 25% mais capacitada do que seu concorrente masculino mais próximo, para ter as mesmas chances de sucesso. Aspectos pessoais considerados favoráveis para os cirurgiões, tais como personalidade forte, auto-controle, mente questionadora, capacidade de liderança e uma certa agressividade são vistos como qualidades nos homens e como componentes estranhos à personalidade feminina, gerando muitas vezes dúvidas quanto à sua feminilidade.
Até a década de 1960, as poucas cirurgiãs existentes encontravam ambiente hostil. Não havia vestiário feminino, roupas adequadas ou quaisquer outras facilidades. Eram sempre confundidas com enfermeiras ou instrumentadoras. Nunca se pensava nelas, em princípio, como cirurgiãs e também eram alvos de comentários desagradáveis. Os pacientes freqüentemente diziam preferir operar com homens. Não havia cirurgiãs bem sucedidas que servissem como exemplo e estímulo.
“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.”
Parabéns e meu grande agradecimento as grandes mulheres que sempre me encorajaram e serviram de exemplo na minha vida .
#diadamulher #wecandoit
Dra. Rebeca Lopes.