Primeiro Transplante de Coração do Mundo.

Escrito por: Júlio Sousa

Publicado em: 20/07/2016

O coração de uma pessoa morta palpitou pela primeira vez no peito de outro humano às 5h25 de 3 de dezembro de 1967, na África do Sul. A operação foi realizada no hospital Grote-Schuur, na Cidade do Cabo pelo chefe de equipe e professor  sul-africano Christiaan Barnard, então com 44 anos de idade. Dr. Christiaan […]

O coração de uma pessoa morta palpitou pela primeira vez no peito de outro humano às 5h25 de 3 de dezembro de 1967, na África do Sul. A operação foi realizada no hospital Grote-Schuur, na Cidade do Cabo pelo chefe de equipe e professor  sul-africano Christiaan Barnard, então com 44 anos de idade.
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Dr. Christiaan Barnard

 

O orgão foi doado para o  marcineiro Louis Waskansky, de 53 anos, que sofria de uma doença cardíaca crônica que não tinha cura. A doadora foi Denise Darvall, de 25 anos, que morreu em um acidente de carro. O cirurgião Christiaan Barnard conduziu a operação médica revolucionária com  equipe de 20 cirurgiões com duração de 5 horas.

 

Mas Waskansky faleceu 18 dias depois da cirurgia histórica, em consequência de uma infecção pulmonar. A luta dos médicos para combater a rejeição do organismo reduziu muito o sistema imunológico do paciente. Contudo, seu coração estava funcionando normalmente até sua morte.

 

Um mês depois da operação espetacular, Barnard fez o segundo transplante de coração e, desta vez, com grande sucesso. O dentista Philip Blaiberg viveu um ano e sete meses com o coração novo.

 

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Dr. Christiaan Barnard e Louis Waskansky

 

A notícia do transplnate se propagou, mas o aconteciemnto era considerado impensável, e até moralmente incabível embora há muito tempo se transplantassem rins, córneas e os ossos do sistema auditivo. Pois  dominava naquele tempo a crença de que não se tratava de um órgão como os demais, mas o lugar da alma, o núcleo humano, o centro da personalidade.

 

“A partir de um determinado momento, a gente é apenas um pesquisador e tem que se ater ao fato de que o coração tem apenas a função de bombear o sangue. Um transplante de coração não é mais do que um transplante de rins ou de fígado”, justificou Barnard.

 

Na atualidade, a repulsa orgânica está bastante reduzida, graças ao efeito de medicamentos desenvolvidos especialmente com essa meta. Mas na época, o grande problema era a rejeição. Um organismo se defende contra todo e qualquer corpo estranho que lhe é implantado. O perigo da rejeição era e foi durante muito tempo o árbitro para o sucesso ou o fracasso de um transplante de coração.

 

Várias equipes de cirurgiões seguiram o ato pioneiro do sul-africano Barnard. Nos EUA, por exemplo, o centro de transplantes Palo Alto e Stanford tentava há muito tempo transplantar corações.

 

“Não podemos esquecer que o professor Shamway e sua equipe, na Stanford University da Califórnia, são os verdadeiros pais do transplante de coração, pois eles fizeram a operação em animais durante anos. Christiaan Barnard tinha sido um membro dessa equipe, como hóspede da África do Sul, e aprendeu como se faz transplante”, destacou o cardiologista Ernst Reiner de Vivie.

 

Depois de sete semanas do grande sucesso de Barnard, o americano Shumway fez seu primeiro transplante de coração. Na ocasião, um colega perguntou a ele como se sentia. Shumway respondeu: ” Você se lembra do segundo homem que alcançou o Polo Norte?”
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Dr. Normam Shamway

 

No entanto, o que poucos sabem é que Hamilton Naki, um negro Sul Africano,  ajudou em todas as pesquisas e testes em animais que precederam a operação pioneira.

 

Naki nasceu em 1926 em uma pequena aldeia em Eastern Cape, uma província da África do Sul. Mesmo em meio as dificuldades financeiras de sua família, frequentou regularmente o ensino primário.

 

Nascido negro, no país do apartheid, presenciou na própria pele o Estado sucumbir os mais básicos direitos de seus cidadãos. Mal sabia ele que faria parte do círculo profissional de um dos maiores cirurgiões daquele país.

 

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Hamilton Naki

 

Conseguiu se empregar como jardineiro na Universidade de Cape Town,na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Depois foi transferido para limpar as jaulas e cuidar dos animais que eram usados como cobaias, porém era curioso e aprendia depressa. Aprendeu a técnica cirúrgica, vendo os médicos brancos que praticavam transplantes em cachorros e porcos.

 

O Dr. Barnard requisitou Naki para sua equipe. Era um problema para as leis sul-africanas. Pois ele era negro e não podia operar pacientes ou tocar em sangue de brancos. Porém, o hospital o considerava tão valioso que fez uma exceção e o transformou em um cirurgião… clandestino.

 

Barnard, repudiava o racismo, mas por questões de segurança preferia não se manifestar publicamente contra.

Em uma entrevista Barnard fala sobre Sr. Naki:“Eu podia ver que ele era um jovem muito capaz e eu dei-lhe mais e mais para fazer e, eventualmente, ele poderia fazer um transplante de coração, às vezes melhor do que os médicos que vieram lá.”

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Lado direito S.O; Lado esquerdo Dr. Barnard e Naki.

Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia.

Naki se aposentou em 1991, e, após quatro décadas de trabalho na Faculdade de Medicina, passou a receber o salário de jardineiro, cerca de 280 dólares, muito inferior ao de técnico de laboratório.

 

O fim do apartheid ocorreu em 1994. Em 2002, como reconhecimento pelo seu trabalho, Naki foi condecorado com a Ordem Nacional de Mapungubwe, mais alta honraria por contribuição à ciência médica. Em 2003, recebeu um diploma honorário em medicina pela Universidade da Cidade do Cabo.
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Naki ensinando alunos de medicina

A participação de Naki neste fato histórico carrega muita controvérsia ainda hoje na África do Sul, enquanto uns acreditam que a história não passa de embelezamento dos negros pós-apartheid, outros preferem acreditar que entrevistas do próprio Barnard veiculadas em jornais como The Economist, BBC, The New York Times são suficientes para provar que Naki realmente teve participação no transplante.

 

 

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Transplante de coração nos dias atuais

 

Contudo, essa história não se refere ao Dr. Vivien Theodore Thomas. Vale ressaltar que em meio a uma época extremamente racista Vivien e Naki nunca desistiram dos seus sonhos. Correram, batalharam e sofreram bastante para ter o reconhecimento que tiveram.

 

Servindo assim de aprendizado que nada vem fácil. Tudo requer uma batalha. E se você almeja ser um grande médico(a), então é isso que você será! Não podemos baixar a cabeça e parar nossos sonhos por existirem pessoas que pensam que são melhores que outras, não podemos nos reprimir por comentários que nunca nos fazem bem.

 

Sempre existirá meios para que você saia do seu eixo e se sinta um(a) fracassado(a). Mas só dependerá de você continuar sua jornada sem olhar para quem ou para trás.

 

“Dizem que na vida não viveste se não tens muito que lamentar. Lamento algumas coisas, mas acredito que não devemos recordar o que perdemos, mas sim o que fizemos. Todas as vidas que salvamos, e salvamos muitas”, (Quase Deuses).

 


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