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Depoimento de Aprovado em Medicina, sem ensino médio e após 5 anos sem estudar.
Este é o resumo do meu histórico até a aprovação em medicina: eu, Maxwell Nascimento Santos (@cuscuz pra quem quiser seguir no insta), saí de um momento em que estava infeliz e sem rumo para voltar ao sonho da minha infância: SER MÉDICO.
Vou dividir minha história em 3 momentos principais e tentar mostrar as lições sobre mim e sobre os outros. Sim, amigos, aprendi muito sobre os outros nessa jornada.
MOMENTO 1 PRODÍGIO – (a história de quando eu me perdi).
Quando pequeno eu gostava de estudar. Segundo minha mãe aprendi a ler sem auxílio. Um dia disse pra ela que Colombo tinha descoberto a América. Como você sabe? – ela perguntou. Eu vi em um livro – disse o pequeno Max. Tá, e por que essa introdução? – você pode estar perguntando. Porque depois daquele momento eu comecei minha vida e o amor aos livros, ao estudo e nascia o sonho de SER MÉDICO.
Me destacando nos colégios que ia, sendo “o mais inteligente da sala”, algumas vezes da escola, lembro que fui adiantado de ano saindo do quarto para o sexto. Contudo, me lembro o quanto queria ser aceito pelos outros e o quanto eu estava fora do “aceitável”, em um resumo bem resumido. Eu cresci em um bairro pobre e sempre estudei em escola pública, então, no final do ensino fundamental, minha professora de biologia trouxe um ótima notícia: ela estava tentando (e quase conseguindo) uma bolsa em uma escola particular muito boa do meu estado.
Lembra que eu disse que queria ser aceito? Por esse motivo eu perdi a bolsa de estudo que eu acabei de citar. Eu quis me encaixar, fazer parte do “grupo maior”. Parei de me dedicar aos estudos, perto do fim do ano eu já estava aprovado e comecei minha descida até o fundo do poço, faltar aulas para ficar com a galera, me desloquei das primeiras filas para o final, imitando comportamentos que o eu adulto ao escrever essas linhas sente vergonha e se pudesse voltar no tempo me daria uma bronca enorme. BOLSA PERDIDA!
Junto com a expressão de tristeza/desapontamento da minha professora. Naquele dia eu senti o peso de realmente decepcionar alguém. Vida que segue, entrei em uma ótima escola pública do meu estado, ATENEU SERGIPENSE, um centro de excelência, fiz a prova, passei e fui um aluno terrível… encontrei mais pessoas que não gostavam de estudar e me adaptei a elas outra vez, para ser aceito, para fazer parte do grupo maior (ser nerd não bombava na minha época).
Acabei passando do primeiro ano para o segundo ano, com muita luta e na rabeta. A escola era em tempo integral, e como eu queria evitar a escola, consegui fazer meus pais me tirarem de lá. Pronto, outra escola, mesmo comportamento e assim começou a sequência de reprovações, a maioria por falta. Passei de alguém que iria se formar provavelmente aos 22 anos médico e realizado para alguém que largou a escola com o primeiro ano do ensino médio cursado.
A lição que eu quero deixar disso é: NÃO IMPORTA SE VOCÊ É PRODIGIOSO, se você não tomar cuidado vai terminar frustrado, pois potencial que não é transformado em trabalho não serve pra muita coisa. A outra lição é: NÃO SE ADAPTE, MANTENHA SUA PERSONALIDADE, eu mudei porque não tinha autoconfiança, eu reduzi meu ritmo. Deus sabe o quanto me arrependo. Mas essa história tem um final feliz.
Momento 2 VIDA COMUM – (a história de quando eu me conformei).
Esse momento se resume em duas palavras simples: TRABALHO E DESCULPAS. Depois de largar a escola eu trabalhei, trabalhei muito e fazendo de tudo. Fui auxiliar de técnico de refrigeração, cambista, estoquista, auxiliar de fotógrafo, vendedor de terno, quase fui vendedor de bugigangas rodando o país. Ufa! Nunca me neguei ao trabalho, mas teve um que me marcou.
Trabalhei como auxiliar de refrigeração no hospital referência do estado de Sergipe, estava tão perto do meu sonho, porém, tão distante. Naquela época eu não dizia que queria ser médico, meu sonho era ser promovido de auxiliar para técnico, não lia mais livros, não tinha mais curiosidade sobre o mundo e as coisas. O foco era ser promovido enquanto mantinha a dinâmica: ganhar meu dinheiro e “viver”.
Lembro de ver os médicos e dizer “sendo playboy é fácil” fazendo pouco caso do que antes queria muito, me tornei excelente em dar desculpas pelas minhas falhas e frustrações. Assim foi por anos e anos. Até que minhas lembranças sobre mim e meu passado educacional prodigioso não eram mais acessadas.
Hoje eu sinto como se tivesse dormido todos esses anos, nos quais eu seguia o grupo. Realmente me tornei parte desse “grande grupo” que é tolhido por diversos fatores e o meu foi a falta de confiança e o desejo de ser aceito por um grupo que não sabia aonde estava indo.
As lições que eu quero deixar são as seguintes: SE VOCÊ VACILAR PARTES IMPORTANTES DE VOCÊ VÃO SUMIR! Eu avancei em me deixar levar e me tornei quase um autômato. EVITE DESCULPAS! Sempre se responsabilize, pergunte com frequência o que eu não fiz? E o que eu posso fazer? desculpas não fecham a conta no fim do dia.
Momento 3 VIDA INCOMUM – (dois livros, um acidente e um compromisso)
Minha vida seguia de boas, eu já não sentia saudades do meu sonho. Até que um dia eu ganhei um livro, O CÓDIGO DA INTELIGÊNCIA do Augusto Cury. No livro falava muito sobre traumas, medos e tratava muito sobre autoconfiança, eu não conhecia o autor, mas ele me tocou muito. Como se fosse uma casa velha sem vida em que a lareira foi acesa e eu comecei a ver cantos que outrora estavam escuros em minha vida.
Algumas partes feias que deviam ser retiradas e coisas que deveriam ser retomadas. Na mesma época eu fui atropelado (rsrs). Com essa energia extra tomei a decisão, vou terminar o ensino médio e entrar na faculdade! Quando pensei em faculdade não pensei em medicina, pensei “quero algo que cuide da saúde” e fiz a prova do governo para conseguir meu diploma de ensino médio, lembro de ter conseguido esse diploma após ter entrado em educação física em uma universidade particular do meu estado.
Quando me pediram o certificado disse “eita, trago depois”. Eu realmente levei, terminei com auxílio do enem e dessa prova. BUM! Estava na faculdade, e adivinha: eu gostava de estudar e ia bem. Lá, depois de muitos anos me sentia levemente acordado. Entretanto algo faltava, e, isso foi se revelando quando tive contato com o segundo livro: MEDICINA DO ESPORTE, um livro verde da borda preta na capa.
Perguntei ao meu professor como poderia ser esse profissional. Só sendo médico – ele disse. Então eu vou ser – disse eu. Coloquei o livro de volta e fui pra casa contar minha nova decisão para amigos e família. Foi aí que eu aprendi muito sobre os outros! Meu pai disse “você não vai passar, só passa quem é rico”, meus amigos em sua maioria disseram “você nunca vai passar, pega o doido… iu”. Minha mãe disse “você consegue filho, você é um gênio”. Como eu sou grato a essas palavras. Desde o dia que eu decidi passar em medicina eu passei muito aperto, eu trabalhava no shopping e estudava quando podia, vendia ternos e me escondia neles com a lâmpada do telefone para estudar no trabalho.
Até que larguei o emprego e consegui uma bolsa parcial de estudos em colégio particular, essa bolsa tem um parêntese bem grande e vou enumerar os fatores que a tornam tão emblemática na minha história.
1 minha nota no ENEM era ridícula: eu tirei 580 de média e 320 na redação.
2 eu não tinha dinheiro pra pagar a parte que faltava da bolsa.
3 eu estava entrando na escola praticamente sem saber nada.
Com essas 3 coisas em mente vou tentar resumir essa parte final. Eu entrei, paguei a primeira parcela da mensalidade e só, eu devi todos os meses subsequentes. Eu me dediquei, eu tinha uma bala de prata (pensava). Estudei com afinco e persegui todos os professores. Aprendi coisas que como diria Nando Reis eram “óbvias até pra uma criança”, como regra de três, divisão com vírgula, tabela periódica.
Minha mente não lembrava de algumas coisas e não sabia várias. Durante esse período eu fui sequencialmente humilhado por meus “amigos”, meu pai fazia questão de me dizer que eu não iria passar sempre que podia, e eu continuava estudando. Passei a ouvir música clássica, estudar sobre métodos de aprendizagem e como me manter motivado. Muitas vezes quis chorar no ponto de ônibus, me senti perdido, tirei notas péssimas no simulado até evoluir.
Eu entrei nesse cursinho no meio do ano mesmo assim no fim do ano eu passei em Direito na UFRJ, Odontologia na UFS, Psicologia na UNICAMP entre outros cursos e universidades. Lembro da felicidade de ter evoluído, mas eu tinha um compromisso, fui contra os conselhos “ faz Odonto” (porque ir para o RIO estava fora de questão), tentei a bolsa integral naquela escola, consegui! Porém, tinha aquele débito, a bala de prata se revelou rsrs.
Foi quando o dono da escola perdoou os juros e me cobrou só o valor da bolsa, peguei o dinheiro emprestado com uma tia e estudei, estudei, descansei quando necessário, evitei totalmente amigos tóxicos e fui aprovado em MEDICINA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE! Foi uma jornada que tirou o melhor de mim, me forjou como sou hoje.
Eu tive medo tantas vezes que nem lembro, me senti agredido e muitas vezes questionei minha sanidade. Porém eu tinha um compromisso e fui leal a ele, apesar dos outros e do meu medo, e lembro que eu ia para o ponto no final do dia e pensava “vou chorar”, depois eu pensava “quando passar eu choro”. Para finalizar quero dizer que quando eu estava na escola eu amava aquilo, estava envolvido e focado, o que eu não sabia podia aprender e aprender é bom, por isso que digo que aprendi com os outros.
Minha felicidade, foco e compromisso foram alvo dos ataques, aparentemente eu estava louco porque não tinha sentido alguém que nem fez o ensino médio e tem seu certificado de provões do governo passar em medicina. Não quero que essa história fique retida a minha pessoa, quero que ela seja um símbolo para os vestibulandos, termino dizendo que inexoravelmente o mundo se curva às pessoas que não se curvam. essas são minhas últimas lições, NÃO GUARDE MÁGOAS, SEJA FELIZ ENQUANTO LUTA PELO SEU SONHO, TENHO ORGULHO DA LUTA ENQUANTO LUTA, SE AFASTE DOS IN-AMIGOS E ESCUTE SUA VOZ INTERNA!
Seja forte, Maxwell Nascimento Santos.