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Depoimento de Sem cursinho, estudante passa para Medicina na UFV.
Sim, eu realizei a prova que me garantiu a aprovação no curso de Medicina em uma das melhores universidades federais do país antes mesmo de completar 17 anos. E não, não sou e nunca fui um gênio. Medicina demorou a se tornar minha primeira opção. Ser médico não foi um sonho de infância, muito menos um objetivo de adolescência. Escolher a profissão que eu levaria para o resto da vida talvez tenha sido a decisão que mais me exigiu tempo e reflexão nesses últimos anos de Ensino Médio.
Por minha mãe ser professora da rede pública na minha cidade natal (Passos – MG), passei grande parte do meu Ensino Fundamental em uma escola pública. Quando tinha uns dez anos, comecei a estudar em um colégio particular – onde, mais tarde, consegui uma bolsa de estudos e por isso pude continuar lá. Até a Oitava Série eu realmente não fazia ideia de qual profissão seguiria, muito menos do que era uma prova de vestibular. Tirava boas notas, mas não era nem de longe o melhor da turma. Era daqueles que estudavam nos dias anteriores às provas, decoravam alguns nomes e fórmulas e passavam com média nove.
Assim que entrei no Primeiro Ano do Ensino Médio, tomei um choque de realidade. Dali a três anos, eu teria de meu futuro, mas não me considerava preparado para aquilo. Era evidente que eu estava defasado em várias disciplinas devido aos meus antigos hábitos, e precisava recuperar o tempo desperdiçado. Para conquistar meus objetivos, independentemente de quais fossem, eu deveria passar de um aluno relaxado e despreparado para alguém com foco e disciplina.
Nesse período de transição, um momento em especial me marcou muito, que foi quando, num Simpósio de Profissões promovido pelo meu colégio, ouvi de uma estudante de Medicina que era impossível ser aprovado nesse curso sem estudar pelo menos oito horas por dia e que alguns anos de cursinho seriam, além de normais, praticamente obrigatórios. Como, até ali, eu nunca havia cogitado tal carreira, fiquei inicialmente intimidado, pois sabia que era difícil, mas não da forma relatada pela moça.
Aquilo ficou na minha cabeça por vários dias, e eu por curiosidade fui pesquisar sobre o curso que parecia tão impossível. Como eu sempre preferi a área de biológicas, acabei me interessando muito por Medicina, mas eu não acreditava que poderia ser aprovado. Por isso, ainda demorei mais um tempo para realmente definir qual carreira eu seguiria – tanto que essa indecisão me motivou a prestar o vestibular da FUVEST para o curso de Ciências Biomoleculares.
Já no início do meu Terceiro Ano do Ensino Médio, notei que o único exame seletivo em que eu possuía certa experiência era o ENEM – eu o havia prestado nos dois anos anteriores-, e por ter me identificado com o estilo de prova, decidi realizar meus estudos focado nele. De início, até alguns dos meus professores acharam a ideia arriscada, mas eu estava tão determinado naquilo que logo ganhei o apoio deles. E apesar de o SISU me permitir escolher a carreira após o resultado da prova, eu já queria pelo menos definir minha primeira opção de curso – não preciso nem dizer que quanto mais eu refletia, quanto mais eu escutava que seria um curso difícil, que é uma profissão que exige abdicação e dedicação total, mais eu tinha certeza de que meu futuro seria dentro de um jaleco.
Entretanto, aquelas palavras que eu havia ouvido no Simpósio de Profissões continuavam me assombrando. Foi então que eu tomei a decisão determinante de alterar minhas concepções e fortalecer minha mente, pois só poderia alcançar meu objetivo se acreditasse que isso fosse possível. Li vários textos motivacionais sobre o assunto e percebi que ninguém é igual a ninguém e não existe “jeito certo” de estudar, cada pessoa tem seu ritmo de aprendizado; ninguém além de mim poderia ditar quais minhas necessidades – mas para isso, eu precisaria conhecê-las e ser realista comigo mesmo. Mudar minha forma de pensar foi um processo complicado, confesso, mas me proporcionou a convicção de que eu passaria se estudasse corretamente de acordo com meu próprio ritmo.
Busquei adaptar uma forma de estudo que fosse, ao mesmo tempo, moderada e produtiva. Nunca exigi mais do que os limites do meu corpo e mente. Passei a escrever redações e a frequentar as aulas de reforço diariamente, mas não estudava mais do que uma hora por dia em casa – para mim, era o suficiente para absorver o conteúdo, sem que houvesse desgaste físico ou psicológico. O treino para o ENEM se baseou na realização diária de cerca de quarenta questões de cada uma das quatro áreas do conhecimento exigidas na prova, sempre controlando o tempo médio gasto em cada uma – que talvez seja um dos maiores problemas para os vestibulandos que prestam o Exame. Mantive a mente firme e tranquila, já que, num momento decisivo como esse, o equilíbrio psicológico é essencial – e fatores como o apoio da família e de amigos e a realização de atividades divertidas e relaxantes auxiliaram bastante a alcançá-lo.
Nos dias que antecederam o Exame, procurei dormir bem e fazer uma alimentação leve para garantir minha integridade física. Tranquilidade e confiança foram fundamentais para que eu pudesse aplicar corretamente todo o conhecimento adquirido ao longo do meu Ensino Médio no momento da prova. Confesso que saí da prova nos dois dias satisfeito com o que fiz, mesmo sem saber qual seria minha nota.
Na espera pelo resultado, confesso que fiquei apreensivo (como qualquer estudante ficaria), mas tinha a consciência tranquila de ter dado o meu melhor, e caso não conseguisse, não teria sido por negligência minha, então bastaria tentar de novo.
Mas uma segunda tentativa não se fez necessária. Assim que tive acesso ao meu desempenho e percebi que a nota era suficiente para passar em Medicina, pude então respirar aliviado e começar a pesquisar por qual universidade eu optaria. E após muito estudo, defini que minha primeira opção seria o curso da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Fui convocado para ela logo na primeira chamada, e enfim posso dizer que o momento em que descobrimos que fomos aprovados faz valer cada segundo de esforço, estudo e dedicação. Fui aprovado em Medicina em uma Federal assim que concluí o Ensino Médio, e nunca fui um gênio. Mas fui a prova de que, mesmo ouvindo que era impossível, foi possível.
Então, meus futuros colegas de profissão, o que eu quero dizer com isso é que, se Medicina for realmente o sonho de vocês, corram atrás, por mais que exija tempo e esforço. Não se importem com opiniões alheias, sejam convictos e confiantes nos princípios e objetivos de vocês, e, acima de tudo, não desistam, mesmo quando tudo conspirar contra. Conheçam suas próprias necessidades, aprendendo a supri-las. Parem de se comparar com os outros, vocês não são iguais a nenhum outro ser humano e nenhum deles pode ditar regras para vocês. Realmente, alguns são aprovados mais cedo, outros precisam estudar por mais tempo, mas isso não quer dizer que ninguém é melhor que ninguém, são apenas pessoas diferentes. Mesmo se forem necessárias dez, vinte chances para que vocês consigam, confiem em si mesmos e não se entreguem. O tempo e o esforço dedicados à conquista são insignificantes perto da satisfação de viver um sonho.
Pedro Daher, estudante de Medicina da Universidade Federal de Viçosa