Depoimento

HOME > Depoimentos > Depoimento de Anésia Fonseca

Depoimento de Depoimento de Anésia Fonseca

Queridos colegas e futuros colegas, antes de contar a minha trajetória até aprovação, começo me apresentando: sou Anésia, 24 anos e moro em Recife – Pernambuco. Minha história até a aprovação foi longa, mas não por conta de várias tentativas e sim, por questões da vida.

Recordo-me que desde cedo gostava de assistir “Plantão Médico” e tinha certeza que queria fazer o que o pessoal que vestia, ora branco, ora verde, fazia. Amava (e ainda amo) cheiro de hospital e brincava de imobilizar o pé ou a mão. Na escola eu era uma aula normal, com notas boas e outras regulares, mas sempre passava por média. Em 2004 eu comecei o ensino médio e tornei-me uma aluna excelente, com notas muito altas a ponto de fechar o ano com 9,9 em física.

Veio 2005 e juntamente os problemas. Sentia fortes dores e cabeça e não conseguia me concentrar, minhas notas despencaram para abaixo da média. Fiquei desesperada, fui a um neurologista e depois de vários exames, o diagnóstico de epilepsia. Passei a tomar remédio controlado para evitar potenciais crises convulsivas. Ao mesmo tempo em que conseguia melhorar na escola, eu tinha certeza que não poderia mais ser médica. Foi um período muito triste na minha vida.

2006 chegou e juntamente o terceiro ano, mas… o que fazer? Resolvi por direito e focava em história, geografia, português. Chegaram as inscrições para o vestibular e não conseguia marcar direito nas opções de curso. Terminei escolhendo medicina na UPE, pois mesmo não tendo condições de passar, eu queria aquele gostinho. Já na UFPE, escolhi biomedicina, pois era um curso da área de saúde e que pela concorrência e nota, daria para passar.
Acontece que alguns meses após as inscrições, o plano de saúde pediu um novo laudo e me encaminhou para outro médico, muito conceituado e este pediu mais exames. Ainda me lembro de quando ele disse que eu não havia nada e que o colega dele, apesar de ser um excelente profissional, tinha se enganado. E ele dizia tudo aquilo, explicando e justificando cada coisa. (Sinceramente, eu quero ser assim, que segurança ao falar!) Isso foi em outubro, não dava mais para voltar atrás, nem correr com a matéria. E tudo foi como eu previ: passei em biomedicina na UFPE e não passei em medicina na UPE.

Entre 2007 e 2010, cursei biomedicina, sempre com aquela dor de não ser aquilo que queria. Por questões financeiras, eu não podia sair e precisava terminar o curso e foi o que fiz. Em 2010 havia me prometido de fazer ENEM e se minha nota fosse boa, tentar medicina. Minha nota foi boa, deu para passar em Ciência da Computação na UFRPE e Análises de Sistema no IFPE. Estava muito decepcionada com aquilo que havia me tornado e resolvi tentar mudar de área, assim comecei na UFRPE. Cursei o primeiro período com enormes dificuldades e não conseguia ir para as aulas no segundo, mais uma vez me via no caminho errado. Tentei voltar para a biomedicina, fazer mestrado e acabou não dando certo.

2012 começou e a minha vida continuava indefinida, minha família me pressionava e eu não sabia o que fazer. No meio de fevereiro, resolvi abrir o jogo: queria uma chance para tentar medicina. Graças a Deus, foi-me concedida. O dinheiro era curto, não dava para fazer os melhores cursinhos. Fui para um bom pré-vestibular, mas não numa turma específica para medicina. Naquela sala 30% se dedicava e o resto atrapalhava, contudo, aquela era a minha chance e provavelmente a minha única chance. Eu não tinha ritmo de estudo e havia começado atrasado, foi muito difícil, passei o carnaval inteiro tentando colocar a matéria em dia. O ano foi passando e sentia dificuldades: há 5 anos não estudava aquelas coisas, não sabia mais escrever de forma sintética como uma redação exige e estudava biologia por mais de um livro o que me fazia seguir a passos lentos.

Por um colega conheci o Projeto Medicina, nossa que força vocês me passaram! Sejam nos conteúdos, mas principalmente, nos depoimentos e posts motivacionais. Eu sou católica e faço parte de um grupo jovem, não tive coragem de me afastar, aquilo me fazia forte! Daí toda semana um horário do domingo era para a Igreja. Chegou o ENEM e me recordo do medo e da insegurança que senti: não havia estudado tudo, talvez não fosse esse ano. Em casa escutava: “você tem que passar, já está ficando velha, tem que trabalhar”. Que pressão! Terminei fazendo boas provas, acertei 152 questões, entretanto, a redação não foi boa.

Veio a UPE que não aceitava o ENEM. Meu local de prova era 14 km de distância da minha casa, dormi pouco, eram 3 dias e fiz provas muito boas, inclusive a redação. Pelos meus cálculos, minha nota variaria entre 82 e 80, comparando com as notas do ano anterior, eu passaria, se não, ficaria perto no remanejamento. Fiquei com muitas esperanças, mas a minha vontade maior era voltar para a UFPE, agora no curso de medicina.

Antes da prova da segunda fase da UFPE, saiu o resultado do ENEM que foi uma grande decepção e na sexta-feira anterior a prova que seria no domingo, saiu a UPE e eu não tinha passado. Acho que dá para imaginar o abalo emocional que senti: a minha certeza não se concretizou e agora eu teria que tirar 9 em todas as provas para ter chance. Fiz péssimas provas na UFPE e vi meu sonho muito distante.

Minha posição no remanejamento da UPE era 79, na UFPE acabei levando ponto de corte. Nada mais me restava a não ser rezar, apeguei-me a uma frase: quando você faz o seu possível, Deus vem e faz o impossível. Passaram 5 remanejamentos na UPE, após o 5º eu estava na 5ª posição, aquilo que parecia impossível, poderia acontecer. Passei mais de 50 dias na expectativa para que saísse o remanejamento da segunda entrada e foi assim, no dia 03 de junho que vi meu nome lá, na lista que sempre esperei e sonhei, que vi tantas vezes distante, impossível: meu nome estava lá! Eu serei médica! Fui aprovada na UPE aos 48 do segundo tempo hehehe! Graças a Deus! Por isso, a minha camiseta de comemoração tem escrito: o meu Deus nunca falhará, eu sei que chegará a minha vez! Não desistam futuros colegas, a cada dia vocês estão mais perto e se hoje vocês lutam pelo sonho das suas vidas, amanhã lutarão por vidas cheias de sonhos.

Empreendedor em educação há mais de 15 anos. Fundador dos sites Rumo ao ITA, Projeto Medicina e Projeto Redação. Já ajudou milhares de estudantes ingressarem no curso de Medicina em universidades públicas e privadas no Brasil.